terça-feira, 18 de maio de 2010

Família Saúde

Sentada na sala, olhando por vitrais o meu jardim, uma visão agrediu-me inescrupulosamente. Meu irmão apareceu, em plena pior forma física, fazendo uma dancinha tosca. Minha primeira reação foi um olhar de reprovação, mas meus lábios não resistiram e deles se desprendeu um riso furtivo.
Apenas o fato de estarmos em casa, no seio da nossa intimidade, permitiu esse momento de alegria gratuita. Sem pejoratividade, apenas besteiras que ajudam a quebrar a visceralidade do dia a dia...


- Pior forma física?
-É, Amadeu, não gostou?
- Não. Você está denegrindo a minha imagem.
-Você se enche de suplemento alimentar para engordar e quando eu te chamo de gordo você se sente ofendido?
- Pior forma física. Você não especificou se eu era um magrelão ou se eu estava GORDO!
- O que vocês estão falando de mim? - veio uma voz da cozinha.
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Da Senhora mãe?
- Vocês estão me chamando de gorda é?
- Ê, família saúde!



E mais uma vez minha postagem perde o propósito inicial. Sempre perco o foco. Vai entender?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Às vezes

Às vezes acontece, essa vontade repentina de chorar, essa lágrima furtada, essa vontade de parar, de apenas existir e deixar as coisas se moverem ao meu redor.
Às vezes acontece, sentir vontade de abraçar o primeiro estranho que passa na rua, dançar com a vassoura, beijar o cachorro.
Às vezes acontece, ver sua história ser escrita por outra caneta. Aceitar o papel de coadjuvante -ou até mesmo figurante- na sua própria vida.
Às vezes acontece, ser testado pela vida, ver o que se quer na hora que não se pode ter. Ver o que se tem, na hora que não se quer.
Às vezes acontece não entender o que está acontecendo, não ver o amor que lhe bate a porta.
Às vezes acontece, tomar as rédeas, começar a dieta, arrumar aquela gaveta e começar meu projeto na mesma segunda feira.
Às vezes, tanta coisa acontece e a gente não sabe dar por isso muito bem.
Coisas acontecem, ainda bem que é só às vezes...


(Brígida Lobato)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Filha de Rapariga com Soldado!

É assim que, comicamente, minha mãe chama quando quer me dar um puxão de orelha. Ela defende a afirmativa veementemente, pois meu pai já serviu às forças armadas e ela se diz uma jovem e ingênua rapariga -no contexto de Portugal, viu- quando o conheceu.
Lembro-me de já ter ouvido minha avó chamá-la da mesma forma, virou quase uma pilhéria hereditária. Talvez ela nem saiba ao certo o que isso quer dizer, mal sabes que acerta em cheio na brincadeira.
Vou para a época da Segunda Guerra Mundial. Os militares, geralmente recém chegados em cidades como Fortaleza, por exemplo, tinham o hábito de se envolverem com moças locais. Chamavam-nas para conhecer a tal Coca Cola e, de um breve envolvimento, elas apareciam com um ‘primo’ para criar. É, esses são os filhos da Coca Cola... filhos de raparigas com soldados.
“Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião...” Porém não foi se referindo a esse ilustrativo contexto que Renato Russo criou esta letra. Ele falava da opressão, da manipulação de informação que acabou por estagnar o conhecimento e criou uma geração descartável.
Mas nossos pais, muitos deles venceram. E hoje nos dão tudo que eles gostariam de ter tido. E muitos dos jovens de hoje, ao invés de aproveitarem as oportunidades que eles nos proporcionam, preferem entorpecerem-se com divertimento banal e um conhecimento vulgar.
Ainda há aqueles que apreciam boa música, bons costumes, boas oportunidades. Jovens que têm perspectiva. Afinal: “Somos o futuro da nação.”
Pensarei bem antes de repassar a anedota aos meus filhos. Será que ainda poderei chamá-los de filhos-de-rapariga-com-soldado, ou apenas filhos-da-mãe, talvez filhos-de-laboratório...
Quem é que vai saber?