quinta-feira, 29 de abril de 2010

Canis Familiares

Há oito anos ele veio a minha porta: olhar pidão, frágil, inocente, apaixonante. Perguntei do que se tratava, mas a única frase que me disseram foi: “Ele será seu!”. Aquela frase perdurou em meus ouvidos. Mas como, meu? Via-me com um misto de realização e dúvida. Apenas aceitei-o em meus braços para chamá-lo de filho.
Simba é seu nome. Dos clássicos da Disney, herdeiro do Rei das Selvas. Jamais imaginei que uma bolinha de pêlos com menos de três palmos de tamanho preencheria uma casa inteira de alegria. Ele já nos rendeu milhares de histórias e eu não podia imaginar as peripércias que um cachorrinho poderia render. Simba segue fielmente os primeiros mandamentos do preguiçoso:
* Durma para viver e viva para descansar.
* Se você ver alguém descansando, ajude-o.
É ver versão canina do Garfield. Atualmente ele anda maio sentimental: se alguém sair de casa sem avisar para onde vai e se chateia e provavelmente aprontará alguma para quem não lhe deu satisfação. É vigia que dorme em serviço, não nos livra de qualquer ladrão que nos possa invadir – basta que este lhe jogue uma bolinha. Dentre alegrias e dissabores, esse é Simba, vulgo “Sá mamãe”, o meu fiel (nem tanto) amigo canino.

domingo, 25 de abril de 2010

Eduardo e Mônica

Para você que gosta de melosas declarações de amor, deixo apenas uma poesia com a inicial do teu nome, talvez nunca saibas que lhe pertence.
A você que quer minha superproteção, deixo apenas uma singela oração feita antes de dormir. Sou pávida criança que viu sua canção virar realidade, canção tantas vezes cantada, almejada, recriada. Pávida, por não saber dar metade do que gostaria, metade do que recebi. Talvez só metade lhe bastasse, porque são de duas metades que se faz um todo. Criança porque a cada minuto descubro adjetivos diferentes para a vida.
A você que merece toda felicidade do mundo, deixo apenas a lembrança de uma tarde ventosa, um banco, um sorvete, um beijo, um crepúsculo.
A você que merece uma trilha sonora, deixo apenas uma canção que não foi feita por mim e não narra a nossa estória.

"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração e quem irá dizer que não existe razão?"

terça-feira, 20 de abril de 2010

Chocolate

Primeiro, segundo, terceiro chocolate que degusto em menos de trinta minutos enquanto me delicio lendo um bom livro. O chocolate estimula a produção de uma substância chamada Serotonina que proporciona um leve bem estar. Mas quem quer saber sobre as propriedades do chocolate? Quem quer saber sobre a minha tristeza? Apenas essa folha de papel parece condescendente ao meu sofrimento e me deixa cosolar-me em sua brancura de paz. Fazendo-me abandonar por alguns instantes a leitura do meu livro, que devoro com tanto apreço. E com esse mesmo apreço o recebi: com páginas amareladas, com um cheirinho de velho, mas, por tê-lo ganhado recentemente, não meço esforços para apresentá-lo como meu mais novo livro! Leio relatos de tristeza, de alguém que sabe descrevê-la bem melhor que eu, pelo seu abundante conhecimento de metáforas e adjetivos que entraram em desuso na época que nasci. Palavras não deviam morrer, mas infelizmente morrem, ou melhor, seu verdadeiro significado morre para nós, que absolvemos com facilidade tantas contrações que economizam tempo e sabedoria. Mais uma vez, comprovo aqui minha incompetência com as letras: falei de chocolate, tristeza, palavras, sem realmente achar o contraponto que os uni. Apenas escrevo, com bastante hostilidade, mas escrevo. Quarto chocolate que como no meu quarto, enquanto escrevo sob a meia luz que bate no papel, terminando a incoerência do meu relato. Já pensando em qual tema degustarei na próxima página, feito chocolate, pois estas linhas parecem liberar Serotonina, que causam um leve bem estar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dólar

Estava lendo um livro em que o autor relatava a sua infância feliz. No interior, tomando banho de açude, subindo em árvores, etc. Não tive essa infância travessa que, não só ele como muitos outros autores e amigos falavam. Mal tenho primos fora da cidade e não tenho um refúgio interiorano... Não tenho cicatrizes nos joelhos, tampouco uma boa história de assombração. Pobre menina sem graça, criada na capital!
Infância monótona, não via a hora de crescer. Resultado: cresci, sentindo leveza em cada novidade. Poucas aventuras vividas, porém muitas histórias pra contar, sei ser boa ouvinte.
Sorte de hoje: A mudança é a lei da vida.
É, muita mudança aconteceu de lá para cá. E apesar da minha vida estar sendo devolvida às rédeas, tenho a impressão que algo valioso não foi devolvido. Cadê meu pote de ouro? Algo em mim morreu e quero ressuscitá-lo. Então fico presa às nostalgias, aos porquês... Cada dia, olho-me no espelho bem devagar, reconhecendo aos poucos minha nova face, vendo se me acostumo. Já sobrevivi à mudança de colégio, ao novo corte de cabelo, aos dois números a mais na minha calça jeans... posso sobreviver a mais. Ganho defeitos, perco qualidades, ganho benquerenças, perco o juízo. É uma eterna bolsa de valores. E hoje, quanto vale o dólar?
Como estão as minhas ações? Gerando conseqüências, é a resposta. As conseqüências gerando mudanças. As mudanças gerando a insônia dessa noite.
A noite vem como bálsamo, sabendo que, ao amanhecer, mesmo com as variações da minha bolsa de valores, jamais farei investimentos sozinha!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas, templos de priscas e longínquas datas... Assim começam os versos de’ Vandalismo’, Augusto dos Anjos. Só não sei lhes explicar o motivo de eu saber estes versos. Devoro dezenas de poemas e prosas que no final nem sei quem foi que escreveu, mas alguém –provavelmente morto- plantou uma semente em mim. E quando escrevo algo, não sei dizer, ao certo, se aquilo nasceu deveras de mim. São tantos artistas, são mil almas que se agregam a minha. Perdoem-me tantas intertextualidades...
Tentando fugir dos plágios, pensei em mudar o nome do meu blog! Já que o meu é em homenagem à poesia de Mario de Sá Carneiro. Pensei em Vida Desenhada! Não, é parecido com um blog que conheço. Vida Parte Um! Nãão... Vida Após MSN... neem... Chega de tanta vida... que tal... Tamy’s House!
Acho bom não mudar o nome do meu blog... deixa esse mesmo! Vou ler meus textos pra ver se eu faço um plágio de mim! ...No desespero dos iconoclastas, quebrei a imagem dos meus próprios sonhos.

-> Pequena homenagem a alguns blogs que aprecio muito!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Madrugada III

Estamos nós duas, eu e a calada da noite. Calada? Essa noite grita! Pelos amores repreendidos, pela insatisfação divulgada, difusa, dissipada... A noite só se faz calada para aconselhar-me, ela não me propõe solução, mantém-se impassiva, em prosopopéia ela me observa. Parece esperar o próximo passo, debochar de mais uma queda, ou comemorar a minha solidão.
Uma vez um sábio professor me disse que a solidão é boa quando a procuramos, mas não quando nos é imposta. Em qualquer ocasião, preferia estar acompanhada. Hoje, convivo tanto com a ela que já nem me importo mais, tenho total descaso pela solidão. Porém, juro que não receitaria solidão a ninguém, esse medicamento tem diversos efeitos colaterais e raríssimas vezes tem a eficácia funcional desejada.
Já nem sei se falo de solidão ou de estar só, mas é o que no momento mais desejo e mais abomino. E a noite mantém-se muda. O sol não dá resquícios de que quer nascer. Eu não queria almejar noite e dia ao mesmo tempo. Temo querer estar só e acabar sozinha.

(Tamyle Dias Ferraz)

->Caros leitores, tendo em vista minhas consecutivas insônias, bem que vocês podiam me indicar algum remédio pra dormir né?!

domingo, 4 de abril de 2010

Tarô

Sorte de hoje: Trabalhe bastante para ser reconhecido por seus talentos.
Joguei a sorte no tarô, a primeira carta foi A JUSTIÇA. Isso significa que está na hora de colher o que plantei, ou seja, justiça será feita nesse momento de minha vida.
Não sou das mais exotéricas, mas caiu-me bem essa coincidência de fatos – já que toda vez que lia o horóscopo, nunca dava certo- acho justo e um tanto cômico.
Não estou aqui para escrever sobre astrologia, ou algo do tipo, só estou aqui para escrever...
Todo trabalho, cada gesto, é em troca de reconhecimento. Não que estejas à espera de uma manchete de jornal estampado com seu feito, mas espera-se, nem que seja, um ‘obrigado’ com os olhos, ainda mais quando o reconhecimento vem daquele (a) que você esperava. Sentimos cada gota de suor valer à pena.
Pesquisa feita na revista Veja. A principal reclamação dos trabalhadores brasileiros em relação aos empregos: Falta de reconhecimento. A segunda: Baixos Salários (isso é quase um pleonasmo, não é mesmo?)
Por isso peço-lhes que após o almoço, digam às suas mães o quanto a comida estava gostosa e agradeça por seus esforços diários. Saibam ser gratos (as) a cada gesto de pessoas que tentam lhes agradar, mesmo que não diretamente, mas saiba reconhecer. Pois, assim, quem sabe um dia, sua sorte vem com a carta A JUSTIÇA e você recolherá toda a gratidão de volta!

Dica de hoje: Seja grato o bastante para também ser reconhecido por seus talentos.

(Tamyle Dias Ferraz)