quarta-feira, 23 de março de 2011

Deusa da Anunciação

Era fim de festa. Elas estavam sentadas na beira da calçada em frente ao restaurante. Pareciam estar de ressaca, mesmo sem ter colocado uma gota de álcool na boca. Era só cansaço, apenas isso. Festa agitada, farta, elas dançaram muito e agora estavam ali sentadas, depois que todos os convidados se foram.

Cabeças encostadas uma no ombro da outra. Seus olhos fitavam o céu que estava pouco estrelado, escondido por nuvens de chuva que se formavam. Como de esperado, começou a chover. Pingos fraquinhos, engolidos pelas três moças que colocavam as línguas de fora, tentando descobrir o sabor que a chuva tem.

Atrás delas aquele vão vazio, outrora lotado de bem quistos e conhecidos. Juntas concluíram: No final, sempre restam nós três...

Eram três meninas-moças, sem a menor noção do que quer dizer ‘sempre’, mas lá no fundo a certeza de que aquela cena seria freqüente e a incerteza de que aquele momento seria eterno, e foi. É relembrado cada vez que elas se encontram sozinhas, ao redor de uma árvore com seus nomes encravados, olhando estrelas, apelidando constelações, tentando achar narizes no escuro.

Quatro anos se passaram depois daquela longa noite... E hoje minha imaginação ganha mais um ano de vida. Te moldei, te mudei, tu me mudaste e me confundiste e já não sei onde termino e tu começas. Vidas entrelaçadas impreterivelmente pelos gostos tão comuns que mesmo sem te conhecer, tu estarias em mim. És a loucura, linha tênue que separa razão e emoção. Sempre dissemos que és nosso equilíbrio. És bem mais. Um heterônimo que deu certo, és as cores, a deusa da anunciação, a dona do sorriso mais encantador, detentora do conselho mais fraternal.

Apenas juntas podemos ser constelação, uma história gostosa de ler. Podemos ser Marias, três Marias que formam um coração. Mais do que nunca acredito na nossa promessa infante de que no final SEMPRE restará nós três...

Parabéns Íris, SEMPRE irei te amar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nossa Missão

Batem os tambores de macumba. Uma roda é feita, todos vestidos de branco e é bem isso que queremos...um pouco de paz. Entoam-se os cantos daqueles que já passaram por aqui. Ensinam-nos a ter força e resignação nessa terra tão sofrida. Mas nosso canto não é de tristeza não, é de alegria por ter passado por tantas coisas e ter encontrado a luz. A luz que chamamos Olorum. Para outros Deus, Alá, Buda. E não importa denominações. Qualquer um que tenha a coragem de vestir a camisa do bem e tentar se melhorar merece um pouco de respeito e , por que não, admiração.

E na terra de brasilis onde "não há preconceito" ainda tem tanta gente que vê algo de errado nas diferenças, mas nos dias de hoje, quem não é diferente?
Já reparaste como o mar é o mesmo, mas em cada parte do planeta ele tem uma cor diferente? Em tudo há uma razão de existir. As diferenças não se anulam. Assim me disse um velho sábio.

Deus nos pôs no mundo para aprendermos e evoluirmos, independente do caminho. Ele não nos cobra grandes feitos, Ele só quer que aprendamos a lidar uns com os outros em paz.

Essa é a minha verdade, qual é a sua?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Narrador

- Que monstro eu criei? Indagou a moça


Eram tantos minhas, meus, eu... E a vida dele passava a ser o primeiro lugar, até mesmo da vida dela. Mas como cobrar cuidados de alguém sem lhe dar esperanças? E a moça mostra seu romance num monólogo. E o moço conta sua história, onde o amor é apenas figurante. E o narrador observa tudo, tentando ser neutro. Às vezes toma partido pela moça, as vezes pelo moço, as vezes tem pena de si mesmo.

Por ser narrador onisciente, o único capaz de ler esses corações tão confusos...

Ela: Fez com que ele criasse auto-estima.

Ele: Queria amá-la com todas as forças, mas assim como ela o ensinara, parecia que ela amava-se mais do que qualquer coisa.

Ela: Sente-se culpada, porque se apaixonou.

Ele: Quer o futuro e ela, juntos numa cajadada só.

Eu, narrador, contando uma história sem vilões. Mostrando essa eterna montanha russa afetiva. Onde a presença física faz contentar o que fugiu pela janela. O sentimento de posse, de quem não possui. O que a sociedade vê, e o que as quatro paredes escondem. O rosto angelical de atitudes vil, e o diabo que chora, sente e ama...