quarta-feira, 7 de julho de 2010

Chave

Talvez a culpa não seja só minha.
Talvez seja. Já nem ligo.
No começo é o cheiro, o gosto, o som.
Depois se sente um perfume vagabundo, volátil.
O gosto insosso.
A minha melodia já nem combina com o tom da tua voz.
E depois me pergunto como posso ter errado tanto.
Aí paro. Olho em volta. Escuto-te.
Penso quão pequena é minha visão.
Delimito o céu.
Tão amplo e, ao mesmo tempo, tão pequeno em relação e as minhas e as tuas projeções.
Talvez se eu fosse mais condescendente.
Se eu fosse mais rigoroso...
Talvez se eu não tivesse começado.
Não, eu não poderia ter mudado tudo, não sozinho...
Olho para trás...
Já tem meio caminho andado.
Uma estradinha torta à direita
Em frente, a continuação do meu percurso, que vai se estreitando.
Voltar. Não, isso é impossível.
Sentar e chorar?
Chorei a tarde inteira, por tudo que ainda não vi.
Fecho os olhos e sigo o vento.
Deixo minha sorte entregue ao acaso.
Talvez a culpa não seja só minha...

“ É como se tivesse em minhas mãos as chaves da ventura
E um incerto destino desditado...”
¹

1-Pablo Neruda.Presente de um poeta. Tradução Tiago de Mello.

4 comentários:

  1. "Voltar. Não, isso é impossível."
    Nós criamos nossos caminhos.
    Certos ou errados, só saberemos ao fim da caminhada, ue acho né? hehe oO

    Sentia falta das filosofias da noite...
    beeijos!
    =]

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  2. Já dizia alguém que não me lembro agora: "Se choras porque perdeste o Sol, as lágrimas não te deixaram ver as estrelas"
    Chorar é bom, mas se for demais a gente nem vê o mundo a nossa volta.
    Um belo texto, moça!
    Obrigado pela visita!
    E que bacana! É de Fortaleza também! :)

    Um beijo!

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  3. *Deixarão
    Hahaha!
    Sobre o seu comentário: Pois é, do centro de nossa cidade pode sair cada história! :)
    Um beijo!

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E então???